terça-feira, 1 de maio de 2007

Fama e Fortuna

Assinei meu nome tantas vezes
e agora viro manchete de jornal.
Corpo dói - linha navrálgia via coração.
Os vizinhos abaixo imploram minha expulsão imediata.
Não ouviram o frenesi pianíssimo da chuva
nem a primeira história mesmo de terror.
No Madame Tussaud o assassino esculpia
as vítimas em cera. Virou manchete.
Eu guio um carro. Olho a baía ao longe,
na bruma de neon, e penso em Haia,
Hamburgo, Dover, âncoras levantadas em Lisboa.
Não cheguei ao mundo novo.
Nada é nacional. Desço no meu salto,
dói a culpa intrusa: ter roubado teu direito de sofrer.
Roubei tua surdina, me joguei ao mar,
Estou fazendo água. Dá o bote.
(Ana Cristina Cesar)


* Ana Cristina foi poeta até os 31 anos de idade, quando se jogou de uma janela do quinto andar na madrugada do dia 29 de outubro de 83. Sua história foi cantada por Renato Russo, em uma de suas músicas que todos conhecem muito bem. "...Ela se jogou da janela do quinto andar; ninguém sabe o que lhe aconteceu..".
A poeta louca, suicida, marcou os amantes da poesia com sua personalidade forte e suas verdades contadas em dor. É uma de minhas preferidas. Gosto de pessoas autênticas, sejam elas como for.
Abraços,
Hieros

Um comentário:

Cassio Brito disse...

Ana C. concede aquele delicioso prazer meio proibido de espiar a intimidade alheia pelo buraco da fechadura.